Falar sobre inclusão, em um país que ainda amarga índices alarmantes de desigualdade, pode parecer utópico. Mas a discussão, iniciada na abertura do XXVIII (28°) Encontro Pedagógico do Centro Universitário Santo Agostinho, 24 de janeiro, trouxe reflexões sobre como é possível ampliar a inclusão por meio de uma educação de qualidade.
A discussão girou em torno do tema: A Democratização do Conhecimento no Ensino Superior: Valores, Vivências e Significados, bastante significativo quando se leva em consideração os desafios impostos pela epidemia do Sars-Cov-2 a todos os setores da sociedade.
“O Encontro Pedagógico 2022.1 vai falar basicamente sobre a democratização do ensino. Temos vivido muitas mudanças na perspectiva do educacional, então optou-se em falar sobre democratização do ensino, principalmente focando na questão da curricularização da extensão, que é a nossa principal novidade pra esse ano”.
Edjofre Coelho diz que as apresentações deste encontro pedagógico foram pautadas pelo próprio PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional, do Centro Universitário Santo Agostinho.
A Pró-Reitora de Ensino, Antonieta Lira e Silva, concorda que o ano de 2022 será de intensas e profundas mudanças. Além de ajustes em todas as Matrizes de cursos para atender as exigências legais do MEC, o UNIFSA est´á promoveno uma atualização das propostas pedagógicas de cada curso.
Mas, considerando o tema do 28° Encontro Pedagógico, a Pr´ó-Reitora diz que é momento de “pensar e fazer educação para o mundo que nos queremos, com ênfase na ciência, na informação baseada em estudos e pesquisas cientificas”. Ela disse que nunca foi tão importante a necessidade de oportunizar educação e conhecimento de qualidade para todos”:
A democratização do conhecimento vai conduzir a transformações de vidas. Vai produzir uma sociedade mais consciente, mais inclusiva e respeitosa, Consciente inclusive de seu papel na transformação de nossa realidade. E esse encontro vem reafirmar nosso compromisso com uma Educação de qualidade, com uma Educação sustentável, mesmo em meio a tantos desafios… lutamos por uma educação verdadeiramente Transformadora!
ANTONIETA LIRA E SILVA – Pró-Reitora de Ensino do UNIFSA
Em sua fala, o Pró-Reitor Administrativo e Financeiro, Átila de Melo Lira, ressaltou que o momento é de confiança, apesar de todas as perdas acarretadas pela epidemia. “Nós nos reinventamos e estamos aqui”, disse, agradecendo a todos que contribuíram para que a instituição na parasse durante a crise sanitária. Segundo ele, as aulas presenciais estão confirmadas. “O Governo do Estado editou um protocolo novo, dando autorização para voltarmos de forma presencial, e isso, mantendo os protocolos de segurança, como aferição da temperatura na entrada, uso de máscaras e de álcool gel”, afirmou.
As aulas retornam dia 7 de fevereiro, para veteranos, e dia 21 de fevereiro, para os ingressantes. Para a Pró-Reitora de Ensino, as aulas presenciais seguirão todas as normas e recomendações de segurança oficiais.
“Alunos com sintomas gripais deverão solicitar via ouvidoria atividades domiciliares para o período que estiverem com quadro de doença infectocontagiosa, conforme previsto na Lei de Diretrizes e bases da Educação. Professores e colaboradores que apresentarem sintomas gripais deverão comunicar ao setor de RH para orientações sobre afastamento e reposição de atividades. Assim, que o protocolo estiver revisado será disponibilizado a toda a comunidade acadêmica”, disse.
CONFERÊNCIAS DO PRIMEIRO DIA
As conferências de abertura trataram de aspectos do tema A Democratização do Conhecimento no Ensino Superior: Valores, Vivências e Significados.
Em sua conferência, o prof. Dr. Alisson Dias Gomes, coordenador do Núcleo de Iniciação à Pesquisa (NIP) e do Núcleo de Relações Internacionais (NRI), discutiu como a Educação ainda é um desafio, especialmente, no Brasil. Para ele, apesar do considerável crescimento do número de matriculados em cursos de graduação no país, grande parte da população ainda não tem acesso às universidade, o que impõe uma discussão sobre a acessibilidade e a democratização do acesso ao ensino superior. “Estatisticamente, há pouca diversidade econômica, social, racial e geográfica no acesso ao ensino brasileiro”, informa.
Para ele, quando se fala em democratização, também é preciso ampliar a perspectiva. “Uma das principais tarefas do processo educacional é ampliar os horizontes dos alunos, propor mudança de mentalidades, e criar novas oportunidades de difusão de conhecimento, requerendo inclusive políticas públicas voltadas para esta demanda social”, disse.
Alisson Gomes diz que, nesse processo, o papel do docente é importantíssimo, tanto em palavras, como em atitudes. Isso fica claro nas palavras mais repetidas por alunos em discursos de colação de grau: Reconhecimento. Gratidão. Transformação.
Quando humanizamos o tratamento, quando personificamos os alunos por meio dos nomes e das suas histórias, quando nos tornamos acessíveis e disponíveis para auxiliar no processo de decodificação e construção do conhecimento, quando ouvimos muito além de escutar… estamos praticando a democracia! Isso vai muito além do ministrar conteúdo… Está no nosso dia a dia. Quando sugerimos livros e fontes de consulta e nos interessamos em saber se os alunos terão acesso real… Quando reservamos um momento da aula, antes ou depois, para atendimentos individuais, nem que sejam 5 minutos (ou um pouco mais) e damos ao aluno voz e vez de se aproximar e criar uma conexão direta… Quando entendemos que cada aluno(a) traz consigo particularidades que o acompanharão (para o bem e para o mal) no processo de leitura, estudo, geração do conhecimento, convivência social…
ALISSON DIAS GOMES – Coordenador do NIP e do NRI UNIFSA
A segunda conferencista da noite, profa. Dra. Maria Zilda Soares, coordenadora do curso de Psicologia no UNIFSA, discutiu o tema: “laços sociais e humanos no processo de democratização do ensino: desafios da educação”. O marco divisório dessa reflexão é a própria pandemia do novo coronavíus, que transformou de forma irremediável algumas atividades humanas. Ela lembra, por exemplo, como, durante a pandemia, ocorreu uma intensa midiatização no processo educativo, o que possibilitou, por um lado, um modelo de compartilhamento de saber por meio das tecnologias, e, por outro, um maior distanciamento nas relações.
O lugar dos encontros presenciais se interpôs entre a vida resguardada em nossos lares e a vulnerabilidade avassaladora da vida lá fora, entre o privado e o público, cedemos espaço à tela, no nosso ambiente doméstico. Muitos impasses surgiram, tais como problemas na conexão dos nossos alunos, o fechamento de câmeras, muitas vezes tínhamos uma tela sem rostos e perguntas no ar: Vocês estão me ouvindo? Vocês estão me vendo? Com as nossas câmeras sempre ligadas tivemos que dar conta de outro fenômeno: o olhar a si mesmo, ver a si mesmo diante da nossa imagem refletida na tela, posição essa tão bem discutida por Freud em seu texto sobre o Narcisismo (1914), pulsão escópica – olhar a si mesmo como Narciso o fez. E os efeitos desse fenômeno deixo para cada um refletir”,
MARIA ZILDA SOARES – coordenadora do curso de Psicologia no UNIFSA
Para Maria Zilda, a Educação deve impulsionar mudanças. “Mais do que uma mera repetição de discursos e conteúdos teóricos e técnicos, o professor, com sua presença e desejo de transmitir, constitui nessa experiência a existência de um sujeito aprendiz. O desejo de ensinar seria então o dispositivo principal de ativação e reconhecimento do desejo de aprender no aluno”, disse. Ela lembra as reflexões do pedagogo Paulo Freire, em sua Pedagogia do Oprimido, quando afirmou: “devemos reconhecer o saber e o modo de vida do aprendente. Cada um aprende a partir de sua própria posição e história, seja ela de riqueza ou pobreza, de mulher ou homem, entre outros gêneros, de negro ou branco, entre outras referências étnico-raciais”. Para a professora, assim como propõe Paulo Freire, é necessário ter esperança: “mas ter esperança do verbo esperançar, porque tem gente que tem esperança, do verbo esperar. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com os outros para fazer de outro modo, para transformar”, disse.
PROGRAMAÇÃO
Ao longo da semana, ocorrerão cerca de 15 atividades, palestras e oficinas. Muitas discussões irão abordar a extensão e sua curricularização, uma vez que uma nova resolução do Ministério da Educação exige a curricularização da prática. Confira a Programação: