O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva e irreversível, considerada uma das formas mais comuns de demência em idosos e que causa perda da memória e diversos distúrbios cognitivos. O Alzheimer acarreta alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional, à medida que a doença progride, o nível de dependência aumenta e o idoso necessita de cuidados especiais, pois até mesmo a realização de funções básicas como alimentação e higiene fica comprometida. A incidência é bastante alta entre idosos a partir dos 60 anos e como a população brasileira está passando por uma fase de envelhecimento, torna-se relevante estudar detalhadamente esta doença para que sejam desenvolvidas estratégias que contribuam para o tratamento e qualidade de vida dos portadores. Com base nesses dados, a professora Dra. Odara Maria de Sousa Sá e as alunas Layane dos Santos Solano e Ana Paula Gomes da Cunha tiveram o interesse em pesquisar como a suplementação alimentar poderia contribuir para retardar o avanço da doença.
As pesquisadoras se dedicaram a estudar os “Efeitos da suplementação de ômega 3, magnésio e vitamina B12 na função cognitiva e na progressão do estado nutricional em idosos com Alzheimer de instituição filantrópica de Teresina-PI” no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do UNIFSA. “Nós partimos de estudos de revisões bibliográficas sobre como os nutrientes poderiam ser utilizados dentro do tratamento de Alzheimer, já que é uma doença relativamente nova e que ainda está sendo estudada acerca dos fatores de risco e terapêuticos, sobretudo na área nutricional. A gente entende que nosso cérebro é composto por gordura e nós temos uma baixíssima quantidade de antioxidantes a nível cerebral bem como de alguns nutrientes que tem efeito direto no nosso sistema nervoso central. Então, diante dessa fisiologia cerebral e diante dos efeitos dos nutrientes nessa perspectiva cerebral e com base na análise de pesquisas experimentais realizadas em animais, montamos nossa formatação com os nutrientes da vitamina B, ômega 3 e magnésio”, explica a professora Odara.
A princípio, as pesquisadoras realizaram uma triagem de instituições em que pudessem ter acesso aos idosos portadores de Alzheimer, uma vez que desse modo seria mais fácil entrar em contato e conseguir um espaço para a aplicação e acompanhamento da suplementação na dieta. “Nossa avaliação começou com a distribuição de um questionário com dados com os médicos e, em seguida, aplicamos um mini exame mental, que já é validado pela literatura da área. Só então partimos para a indicação da suplementação com o ômega 3, magnésio e vitamina B-12, isso ao longo de noventa dias, sendo que a cada trinta dias aplicávamos o questionário avaliativo nutricional e o mini exame mental novamente para ver se teve algum alteração em relação aos dados antropométricos bem como a função cognitiva”, esclarece a estudante e pesquisadora Ana Paula Gomes.
Foram escolhidas duas instituições filantrópicas aqui de Teresina, no entanto, o público para aplicação da suplementação foi reduzido, se encaixando em um estudo de casos múltiplos, que vai de 4 a 8 casos avaliados. “Realizamos a pesquisa com 8 idosos, divididos entre grupo controle e grupo submetido à suplementação, e basicamente ambos com a mesma dieta. A primeira dificuldade foi em relação ao número de amostras, uma vez que vários idosos das instituições escolhidas estavam em um estágio bem avançado da doença, de tal maneira que não tinham sequer condições de nos fornecer os dados dos questionários. As instituições também foram bastante rigorosas em relação às visitas. Todo esse processo durou em média oito meses e uma das dificuldades encontradas dói a de resgatar dados para incrementar a pesquisa pois como não havia sido realizado testes com seres humanos somente em animais, nós não encontrávamos dados específicos para aquela pesquisa”, relata a estudante Layane dos Santos.
As pesquisadoras prepararam os três nutrientes, ômega 3, vitamina b12 e magnésio em quantidades adequadas para cada caso. Como eram quatro idosos no grupo, elas levaram a cada mês a suplementação referente aos trinta dias. Para que fosse mantido o controle acerca da ingestão das vitaminas foram estabelecidos horários que fossem compatíveis com as outras medicações do paciente. Além de terem disponibilizadas fichas para que eles assinassem o horário em que fizeram o uso. “A suplementação foi controlada nesse sentido porque nós não suplementamos através do alimento nós suplementamos o nutriente de maneira isolada”, descreve a professora.
Ao final dos noventa dias de aplicação da suplementação, as pesquisadoras puderam constatar, através dos testes cognitivos de pontos de orientação, referência, retenção de informações, que houve uma evolução interessante na função cognitiva dos idosos. Mas as pesquisadoras explicam que como não controlaram o padrão dietético e não o reajustaram, não tiveram resultados sobre uma evolução do ponto de vista antropométrico nutricional, uma vez que esse não era o objetivo da pesquisa. O objetivo foi o de avaliar o efeito dos nutrientes selecionados no aspecto cognitivo, considerado como ponto importante para o retardamento da progressão do Alzheimer e isso pode ser identificado em relação à fala, memória e localização tempo-espacial.
Uma das considerações da pesquisa é a de que esses nutrientes quando associados a uma dieta adequada podem gerar resultados benéficos quanto a função cognitiva dos idosos portadores de alzheimer. As pesquisadoras indicam que a partir desses resultados alguns pontos podem ser trabalhados em pesquisas posteriores como a questão de interação das vitaminas com outros medicamentos. “Nessa pesquisa nossa avaliação foi baseada em testes sobre a percepção do paciente de acordo com os questionários. No futuro podemos associar exames bioquímicos, exames de imagem do próprio sistema nervoso central para entender se realmente o nutriente repercutiu a nível de mielina. Nós já estamos desenvolvendo outro trabalho sobre a avaliação da resistência periférica a reação da insulina em idosos com Alzheimer. Porque hoje existe a diabetes tipo 3, que indica a resistência à insulina no cérebro causada pela doença de Alzheimer. E hoje ainda não termos um estudos de grande relevância cientifica com esses dados e estamos tentando fazer essas avaliações através de dosagens bioquímicas para entendemos essa resistência periférica ação da insulina e o efeito no Alzheimer”, explica a professora orientadora.
As estudantes complementam que sempre tiveram interesse em pesquisar, pois visam a carreira acadêmica e com a experiência da iniciação científica já se sentem mais seguras para pensar em um mestrado. Nosso trabalho foi ousado, pelo público, pelo tipo de pesquisa e tema. Apesar de desafiador, a experiência foi super positiva. A pesquisa é a forma que temos, enquanto profissionais, de fazer com que se desenvolvam novas técnicas de tratamentos, estratégias de cuidados. Então é um trabalho muito importante e também complexo, apesar de suas limitações”, informa Ana Paula. As pesquisadoras relatam que o trabalho já foi aceito para publicação em uma Revista científica qualis B2 e também já foi apresentado no Congresso Internacional de Nutrição (COINNUT).