Com grande repercussão nos meios de comunicação, os casos de estupros coletivos, noticiados pela mídia eletrônica piauiense, foram tema de pesquisa dos alunos do curso de Psicologia do Centro Universitário Santo Agostinho no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Isabela Vieira de Sousa e Kaio Vitor Gonçalves Fernandes, sob a orientação da Profa. Dra. Patrícia Melo do Monte, coletaram dados sobre notícias divulgadas por meios eletrônicos acerca de crimes desta natureza, com o objetivo de compreender de que forma os agressores e agredidos eram tratados, do ponto de vista da Psicologia, nos relatos jornalísticos.
De acordo com a professora, foi delineado um período entre 2016 e 2018 e a partir daí a equipe observou as notícias nos principais meios eletrônicos do Estado. A primeira particularidade encontrada foi a de que os sites noticiosos tinham uma abordagem jurídica e legislativa, mas com um pequeno olhar psicológico. “Procuramos entender o perfil das vítimas, entender também os recursos jornalísticos na apresentação da informação”, afirma a professora.
Observar outras pesquisas com a mesma temática também foi um dos passos que a equipe seguiu e, a partir disso, puderam ver como se comportavam notícias relacionadas ao estupro em outros trabalhos publicados no Brasil. “Quando entramos em contato com esse material, sentimos a necessidade de tentar caracterizar o fenômeno do estupro coletivo, pois realmente são pouquíssimos os estudos relacionados a esse tema. No primeiro momento, realizamos um levantamento geral”, explica o acadêmico de Psicologia e pesquisador, Kaio Vitor.
Depois de pesquisar, a equipe reuniu dados para iniciar os relatos. Foram identificadas particularidades como o perfil da vítima e o perfil do agressor. “Vimos até certa semelhança da vítima com a idade, pois cerca em 90% dos dados coletados a vítima era do sexo feminino, adolescente ou jovem adulta; e o perfil do agressor era do sexo masculino, adolescente ou adulto jovem. E na maioria dos casos, sempre existia menção a bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas”, pontua a professora Patrícia Melo.
A culpabilização da vítima foi algo identificado pelos pesquisadores. De acordo com a professora, “na veiculação de algumas notícias notou-se que era só pressão em relação ao feminino, sempre essa mulher que aparece de forma muito frágil, essa mulher muito vulnerável, que de certa forma ela facilitaria esse contato sexual”. Houve também a identificação, através das notícias, que após o trauma a mulher era encaminhada ao atendimento emergencial, mas não ficava claro nas notícias posteriores se esse acompanhamento era mantido. “A gente sabe que as vítimas desse tipo de agressão necessitam de um atendimento personalizado e cuidadoso em razão dos traumas psicológicos e físicos. A gente vê a necessidade desse atendimento permanente”, enfatiza a estudante e pesquisadora, Isabela Vieira.
Os pesquisadores reconhecem a importância de pesquisar a temática e enxergam o Programa de Iniciação à Pesquisa como uma ótima oportunidade para a produção de conhecimento. Conforme a professora orientadora, a participação no programa evidenciou e instigou os alunos a terem contato com um tema muito delicado e pouco estudado por profissionais piauienses e a meta da equipe é a de conseguir publicar os resultados da pesquisa em uma revista científica da área. Para finalizar, os pesquisadores lançam um alerta aos profissionais de jornalismo, para que tenham mais cuidado ao divulgar casos como os de estupro coletivo – que suscitam grande responsabilidade devido à natureza delicada do acontecimento e às implicações que pode gerar futuramente. Eles apontam que os princípios éticos devem ser sempre observados, pois em muitas notícias analisadas não há a preocupação em não estigmatizar as vítimas, por exemplo.